Memória de um tempo passado onde
se inscreve a Escola de agora com
a inquietude de ver mais além,
perscrutando o futuro.
Na história da Medicina, das doenças, dos diagnósticos e dos tratamentos, existe uma memória de todas as profissões da saúde que importa reconhecer, situando-a no espaço e no tempo.
É nesse sentido que, olhando os finais do século XIX e o início do século XX, encontramos referências para a génese das Tecnologias da Saúde enquanto áreas de diagnóstico e terapêutica, hoje assim designadas.
Trata-se, por isso, de mais de um século deste percurso, com etapas que importa, ainda que de forma breve, trazer à memória.
A matriz conceptual que nos serve da primeira memória espaço-tempo tem como referência o início do século passado, de vivências em ambiente hospitalar, quando a 24 de dezembro de 1901 foi criado, no Hospital Real de S. José e Anexos, o “Laboratório Geral de Anályse Clínica”. Este Serviço integrava as áreas de “Anályse Anátomo-Patológica; Anályse Bacterológica; Anályse Química; Anályse Radioscópica, Radiográfica e Fotográfica; Electro-Diagnóstico e Electroterapia”. É neste ambiente hospitalar que nasceram as profissões de Diagnóstico e Terapêutica.
Já na década de 60 do século XX, decorrente deste processo de emergência do exercício profissional, dá-se o início do Ensino Formal das Profissões das Tecnologias da Saúde, com a criação dos Centros de Preparação dos Técnicos e Auxiliares dos Serviços Clínicos, a funcionarem junto das Instituições Hospitalares, em Lisboa, Coimbra e Porto.
Estes Centros de Preparação ministravam dois níveis de Formação: Curso Técnico, com 15 meses de duração e Auxiliar dos Serviços Clínicos, com 9 meses de duração.
Na transição dos anos 60 para a década de 80, face às profundas mudanças ao nível das políticas da saúde e do ensino, com base na evolução da Ciência e da Tecnologia, surge a necessidade de reestruturar o ensino na saúde, havendo, para tanto, necessidade de criar Escolas Superiores de Saúde.
É neste quadro contextual que a Portaria n.º 709 de 23 de setembro de 1980, anuncia a criação das Escolas Técnicas dos Serviços de Saúde a partir da Reestruturação dos Cursos de Formação de Técnicos Auxiliares dos Serviços Complementares de Diagnóstico e Terapêutica, em Lisboa, Coimbra e Porto.
Encontramos, assim, um segundo espaço-tempo deste percurso da Escola, no n.º 7 da Rua José Carlos Santos, em Entrecampos, a partir do último trimestre de 1980. Ainda como Centro de Formação, deu início à organização e desenvolvimento dos Cursos com 3 anos de duração, tendo o primeiro dia de aulas ocorrido a 12 de janeiro de 1981, no Anfiteatro do Instituto Português de Oncologia, em Lisboa,
Apesar de prevista na Portaria n.º 709/80, a Escola Técnica dos Serviços de Saúde de Lisboa (ETSSL), foi criada em 1982, através do Decreto-Lei n.º 371/82, sucedendo ao Centro de Formação. Apesar de se exigir o 12.º ano para acesso aos cursos, 3000 horas de formação e três anos de duração, o ensino aqui desenvolvido era ensino de natureza técnica, que habilitava para o desempenho da atividade profissional, mas não conferia grau académico, dado não estar integrado no ensino superior.
Essa integração no sistema educativo nacional, ao nível do ensino politécnico, ocorreu em 23 de dezembro de 1993, através do Decreto-Lei n.º 415/93, criando a Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa (ESTeSL). O ensino passa a conferir o grau de bacharel, e a Escola fica sob a tutela dos Ministérios da Saúde e da Educação. Foram necessários cerca de 12 anos de negociação, exigência, lutas sucessivas, para este reconhecimento.
Tratou-se de um momento de grande significado para o ensino e para o desenvolvimento das profissões, reforçado com a criação das Licenciaturas em 1999/2000, passando os cursos para 4 anos de duração.
O final do século XX e o início do século XXI ficará para a história da Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa como o tempo de consolidação de um percurso de desafios constantes, que só foi possível ganhar pelo sentido de missão dos seus Dirigentes, referências maiores que tanto fizeram com tão pouco, e pelo sentido de grupo sempre demonstrado nos momentos decisivos, pela Comunidade Académica da Escola.
O ano 2001 fica associado ao início de um terceiro espaço-tempo da vida da Escola, com as novas Instalações, no Parque das Nações, adequadas à natureza do ensino desenvolvido e às múltiplas transformações que o progresso técnico, científico e organizacional a isso obrigam.
Na missão que lhe cabe — ensino, investigação e serviços à comunidade, a ESTeSL viu intensificadas as suas ações nestas áreas, particularmente a partir de 2003 com 12 cursos de Licenciatura, Mestrados, Projetos Científicos próprios e de Cooperação Internacional.
A mobilidade de Estudantes ao abrigo do Programa Sócrates/Erasmus, e das múltiplas parcerias internacionais estabelecidas, foi intensificada, quer através dos Estudantes e Docentes da ESTeSL em Instituições de ensino estrangeiras, quer de Estudantes e Docentes de outros Países que procuram a ESTeSL pela qualidade do ensino aqui desenvolvido.
Também a Cooperação com a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), desde há vários anos, para apoio na formação de profissionais e docentes destas áreas da saúde, reveste particular importância na internacionalização da ESTeSL.
A vertente do Serviço à Comunidade, que também faz parte da missão da Escola, tem integrado inúmeros projetos em parceria com outras Instituições ou mesmo de forma autónoma quando desenvolvidos exclusivamente na ESTeSL.
A par destas ações, que orientam os principais eixos de desenvolvimento do ensino graduado (licenciaturas), importa referir os projetos de ensino pós-graduado, sobretudo com a implementação de programas de Mestrados e Pós-Graduações em áreas específicas da saúde, que a ESTeSL disponibiliza aos licenciados das Tecnologias da Saúde.
Em termos organizacionais, a ESTeSL, que desde a sua criação funcionou como Escola não Integrada, foi integrada no Instituto Politécnico de Lisboa de Lisboa (IPL) em 2004.
O ensino superior em Portugal, à semelhança de outros Países Europeus, sofreu em 2008 uma profunda reorganização face ao designado Processo de Bolonha, em que foi extinto o grau de Bacharel, e a maior parte das licenciaturas ficou com 3 anos de duração. As Tecnologias da Saúde mantiveram os 4 anos de duração, pelo reconhecimento da exigente prestação de cuidados nestas áreas da saúde.
Este ensino de excelência exige o constante aperfeiçoamento dos meios e a criação de novo conhecimento através de projetos científicos próprios e da qualidade do seu corpo docente.
Orientada por esse princípio, a ESTeSL conta hoje com o Centro de Investigação em Saúde e Tecnologia (H&TRC); o Laboratório de Genética Humana; integra o Centro Académico de Medicina de Lisboa que, a par do incremento atual da Investigação com Projetos Nacionais e Internacionais e da Formação ao Longo da Vida, hão de permitir, com o envolvimento da Comunidade Académica — dirigentes, pessoal não docente, estudantes e docentes, que a Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa continue a constituir referência na preparação destes profissionais que, com o seu trabalho ao serviço da saúde e da vida, em qualquer lugar ou circunstância honram o seu legado, dignificam todos os que dela fazem parte e olham o futuro com confiança.
Lisboa, julho de 2022